quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

DES(AMOR)


Fiquei olhando o contorno perfeito da sua boca com aquele
seu sorriso que mais parece um rasgo.
Meu coração batia e sua pele queimava
chamando meu nome.
Queria te tocar. Queria entender.
Queria um pouco daquilo que não sei o nome.
Difícil explicar... Então bruscamente desviei os olhos,
engoli seco e decidi: amanhã deixo de amar você.

[S.Botelho]






Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia. Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada. No entanto, sei que você está cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida. Que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instanto, cansando-me facilmente. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.


[Fernanda Young in Aritmética]













Nunca mais minha mãe conversou comigo. Não sentiria nada se meu pai nunca mais olhasse na minha cara. Mas nunca mais ouvir "minha filha" na voz acolhedora da minha mãe talvez seja o mais perto da solidão da morte que já cheguei. Nunca mais queria sentir isso de novo. Nunca mais. O incômodo silêncio.

[...]

Fui para a sala e fiquei sentada à mesa de jantar, fingindo fazer minha lição de casa. Na verdade, fiquei olhando para minha mãe, silenciosa, de costas para mim, preparando algo na cozinha. Reconhecia que ela não merecia passar por tudo aquilo. No entanto, era o que eu queria fazer. Ou o que tinha que fazer. Estava eufórica por um lado, embora triste por outro. Olhando aquela mulher que um dia abriu mão da própria vida para ficar com um marido, cuidar da casa e dos filhos, até de mim, que não era sua filha de verdade, senti uma imensa vontade de dividir com ela minha decisão. Mostrar que nada daquilo era por ela, mas por mim.


Eu até poderia seguir seus passos e abrir mão de mim, fazer tudo igual ao que ela tinha feito. Bati o martelo. Sem perceber, comecei a colocar tudo o que queria dizer a ela no papel. Não foi premeditado. Foi espontâneo e sincero, como há muito tempo eu não conseguia ser. Agradeci por tudo o que tinha feito por mim, pedi perdão pela dor que ela sentiria, mas deixei claro que estava indo buscar a minha felicidade, onde quer que ela estivesse. Desejei que, dessa maneira, ela e meu pai também pudessem voltar a ser felizes, sem mim, sem meus problemas. Reli a carta, que parecia a de um suicida.


Não conseguiria escrever nada diferente, porém. De certa maneira, algo morria em mim naquele dia. Deixei a carta em cima da mesa, apanhei o fichário e a mochila. Eu sempre saía pela porta da cozinha. Passei por minha mãe, que estava fazendo o almoço, de costas para mim, encostada na pia. "Tchau, mãe." Ela não me respondeu.


Ela não se virou. Eu sabia que era para nunca mais. Ela não. Fiquei parada na porta um segundo, olhando para ela. Ela não se virou. Me arrependo tanto do abraço que não tive coragem de dar naquela hora. Eu amo minha mãe. Ela não sabia. Ela não se virou. Não veio nenhuma palavra, nenhum gesto. Nem dela, nem meu. Me virei. Em silêncio, fechei a porta atrás de mim. Tchau, mãe.

[Bruna Surfistinha in Doce Veneno do Escorpião]


2 comentários:

Anônimo disse...

Minha Querida,

muito bom te "ver" por aqui...

saudades....

ah...a "caneca encantada"....dessa vez vai...rs...
o presente tá um "pouco" amassado...mas continua lá...com laços de fita lilás...

beijinhos...
vc já está no meu blog...
com carinho...

Marie

http://simplesmentemarie.blogspot.com

Anônimo disse...

So,

Sua Clarice me ensinou algo importante nesse último mês atráves de seu livro: Correio Feminino.
Lá ela diz assim:"Os sentimentos são sempre uma surpresa.Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido...
Quase sempre amamos a quem nos ama mal,e desprezamos quem melhor nos quer...
Assim,repito,quando tivermso feito td para conseguir um amor,e falhado, resta-nos um só caminho...o de nada mais fazer"

É só deixar a vida seguir e ir seguindo ela.

Meus beijos.
Danny