sábado, 8 de março de 2008

Mulher

De todas as mulheres que amei, a que menos amei fui eu mesma...
deixei de me amar quando permiti que deixassem de amar-me.
deixei de me amar quando pensei que não fosse mais capaz de amar.
deixei de me amar quando ausentei-me em momentos
que gostaria estar presente.
deixei de me amar ao errar com as pessoas mais
importantes de minha vida.
deixei de me amar quando chorei ao invés de sorrir.
deixei de me amar quando perdi a capacidade de abandonar.
deixei de me amar quando deixei que me amassem da maneira mais errada possível.
deixei de me amar quando por um instante me esqueci que sou guerreira,
sou menina, sou criança, sou mãe e pai, perdedora e vencedora na mesma proporção,
silenciosa e gritante por dentro, sou clara,
sou azul, direta, amiga, fiel, leal além do que deveria.
Sou assim, sou mulher.

[S.Botelho]


Ariana se amaldiçoa diariamente pelo fato de haver nascido mulher. E - só por esse detalhe - ter que. Ter que se fazer de louca, quando um obreiro berra: Ô bocetão! Ter que se fingir de burra, quando um idiota qualquer se sente no direito de lhe dar uma cantada, mesmo alguma mais elegante que a do ô bocetão! Ter que atravessar a rua, para evitar passar na frente de um bando de homens distintos, pois eles vão dizer, com ruídos e olhares, ô bocetão! Só sendo mulher para entender quanto o simples fato de existir pode ser humilhante.

[Fernanda Young in Carta para alguém bem perto]






Vc é aquela com quem todo mundo quer casar? Costuma motivar a rapaziada da construção? Recebe flores de estranhos? Alguém se embriagou por sua causa? Você é o motivo da terapia de alguém? Já levou algum fora? E quantos você já deu? Preocupou-se em dar explicação? Você sabe onde fica a rua da amargura onde moram as hordas dos seus enjeitados, ou simplesmente riscou da agenda? Quantos você é capaz de seduzir ao mesmo tempo? Ou sua mira é só um e, pra você, é presa fácil?

Você tem peitos de Dolly Parker e boca de Angelina Jolie? Ou precisou investir no promissor mercado do silicone? Cruzar as pernas é um lance de dados? Você aprendeu a falar com as sereias? As outras são suas rivais?

O que você espera de um homem? Flores? Tesouros? Poemas? Romance? Que pague as contas e abra a porta do carro? Que lhe peça em casamento? Ou apenas filhos e que depois vá morar na casa da sogra? Seu sonho é a casa cheia, mil mamadeiras e berros? Ou prefere uma empresa multinacional? Quantas fraldas você é capaz de trocar numa hora para agregar valor à sua carreira de mãe?

Ou você é simplesmente uma pessoa meiga, suave e delicada que a todos encanta e seduz com seus gestos respeitosos e suas palavras bem colocadas?

Se você respondeu afirmativamente a todas estas questões saiba que você é a própria, a poderosa, a absoluta fêmea alfa. Mas se vacilou um momento, saiba que seu destino pode ser bem mais prático como uma fêmea beta, gama, delta...

[Marcia Tiburi]




Choram meus filhos pela casa
fraldas colos fanfarras
Meus filhos choram querendo talvez meu peito
ou talvez o mesmo único leito que reservei pra mim
Assim aprendi a doar
com o pranto deles

Na marra aprendi a dar mundo a quem do mundo é
A quem ao mundo pertence e de quem sou mera babá
Um dia serei irremediavelmente defasada, demodê
Meus filhos berram meu nome função
querendo pão, ternura, verdade e ainda possibilidade de ilusão
Meus filhos cometem travessuras sábias
no tapa bumerangue da malcriação
Eu que por eles explodi buceta afora afeto adentro
ingiro sozinha o ouro excremento desta generosidade
Aprendo que não valho nada em mim
Que criar pessoa é criar futuro
não há portanto recompensa, indenização
mesquinhas voltas, efêmeros trocos.
Choram pela casa e eu ouço sem ouvidos
porque meus sentidos vivem agora sob a égide da alma


Chupetas punhetas guitarras
meus filhos babam conhecimentos da nova era
no chão de minha casa.
Essa deve ser minha felicidade.
Aprendo a dar meu eu, aquilo que não tem cópia
tampouco similar
E o tempo, esse cuidadoso alfaiate, não me conta nada
Assíduo guardador dos nossos melhores segredos
sabe o enredo da estória
Vai soprando tudo aos poucos e muito aos pouquinhos
Faz eu lembrar que meu pai também já foi pequenininho
Que só por ele ter podido ser meu ontem
Só por ele ter fodido com desesperado desejo minha mãe
um dia eu existi.



Choram meus filhos pela Nasa onde passeamos planetas e reveses
Eu escuto seus computadores, eu limpo suas fezes
faço compressas pra febre, afirmo que quero morrer antes deles
assino um documento onde aceito de bom grado
lhes ter sido a mala o malote a estrela guia
Um dia eles amarão com a mesma grandeza que eu
uma pessoa que não pode ser eu

Serão seus filhos suas mulheres seus homens
Eu serei aquela que receberá sua escassa visita
Não serei a preferida.
Serei a quem se agradece displicente
pelo adianto, pela carona
de poderem ter sido humanidade.
Choram meus filhos pela casa
Eu sou a recessiva bússola
a cegonha a garça
com um único presente na mão:
Saber que o amor só é amor quando é troca
E a troca só tem graça quando é de graça
.

[Elisa Lucinda]

4 comentários:

AndréiArteDigital disse...

Oi adoro ler seu blog e agora então que sei quais são seus textos adoro mais ainda...
qualquer dia copio um deles para meu blog
beijos
Andréia Botelho

Anônimo disse...

Querida,
e se sete vidas eu tivesse...
nas sete vidas eu gostaria de ser mulher !
Parabéns menina-mulher!

Simplesmente Marie

Anônimo disse...

Querida,
e se sete vidas eu tivesse...
nas sete vidas eu gostaria de ser mulher !
Parabéns menina-mulher!

Simplesmente Marie

Anônimo disse...

Docinho, passei por aqui.