sexta-feira, 9 de abril de 2010

Entre-as-linhas


Então comecei anotar sonhos e lembranças sem parar, assim, como um vicio. No chão, em cadernos, guardanapos, contracapa de livros, revistas, paredes, jornais, árvores. Todos os sonhos que sonhei sozinha e também os que sonharam por mim e também os que sonharam comigo. Fui tecendo um a um, cuidadosamente, para não deixar nem os menores e, aparentemente menos importantes, de fora. Depois juntei com as lembranças. E essas foram as mais difíceis de serem recortadas, porque as boas me faziam sorrir, achar graça, sufocar de alegria e as ruins, como não poderiam deixar de ser, me arrebentavam o coração. Na verdade, não eram ruins propriamente ditas, mas tristes, covardes e pequenas. Mas foi num momento de gargalhada, dessas que a gente involuntariamente deita a cabeça pra trás e cerra os olhos, que na volta, me deparei com as lembranças mais recentes, ainda cheirando a tinta ou sangue, não sei ao certo. Palavras rasgando a folha o peito e furando a compreensão. Uma vontade de dizer baixinho: não faz isso. Doía como no instante preciso. Mas [dessa vez] não chorei. Me debati alguns instantes dentro de mim mesma, soltei uns grunhidos, feito bicho ferido e fiquei ali esperando aquilo passar e achando, bem devagarinho, que mesmo não querendo, a vida vai ensinando a gente a ser mais duro. Quer dizer, duro nada, só um pouquinho menos mole.

[S.Botelho]





Lá vai minha alma
levando duvidas, certezas,
dores,
alegrias, calor
amores,
paz, esquecimento,
cores,
coragem, escuridão,
sabores,
vontades, promessas.
Lá vai ela,
trincada
resistente
e por ora me convence
que tudo o que não leva
é porque a ela
não mais pertence.

[S.Botelho/Thaís B.]



Nenhum comentário: