quinta-feira, 1 de abril de 2010

A vida solta do barbante


Há um ano cometi um crime. Um crime hediondo, premeditado, e a sangue frio. Não precisei deixar pistas ou tomar o cuidado em não deixá-las, alterar a cena do crime, limpar impressões digitais. Nada disso foi necessário. Fui presa em flagrante. E sem dizer uma única frase, estendi minhas mãos - ainda sujas - para serem algemadas.

Nem saberia explicar os meus porquês. Diante do juiz não disse absolutamente nada. Era um coração em descompasso, uma aparência amassada como uma folha de papel e a sensação de uma lágrima cristalizada escorrendo sobre o gelo do meu rosto. Faziam-me perguntas e perguntas e todas as respostas eram o silêncio, que na verdade representava autopunição, melhor dizendo, autoflagelo.

Então fui julgada e condenada. E fragilizada, permiti os ataques mais absurdos, vindos de todos os lados. Como se, apenas a condenação, não bastasse. Quieta como uma folha de outono, recebi todas as surpresas reservadas e elegantemente separei uma a uma entre as horas dos meus dias que também se desfaziam em pedaços.

A vida ia acontecendo e eu desacontecendo. A eternidade disfarçando-se em semanas e meses e só conseguia dar conta disso quando sentia o cheiro de sobrevivência em meus cabelos ou quando parava em frente ao espelho e enxergava nos lábios um meio sorriso dolorido, quase imperceptível, como um machucado já cicatrizado.

Hoje estou em liberdade provisória. Uma liberdade perigosa. Bem assim, como se meu sapateado fosse sobre um fio que liga um prédio a outro em plena Avenida Paulista. E claro, sem direito a vacilo. Bastam os acumulados até agora. Então, tenho dias quietinhos, dias barulhentos. Ás vezes fico horas sem pensar nada. Depois gasto o resto delas embriagada em tantos pensamentos, até que alguém ou alguma coisa fura, rasga, interrompe esse momento e me lembra que agora posso voar.


[S.Botelho]


pode ser viagem minha, mas, como a maioria dos seres humanos, só consigo aprender com associações e metáforas. então, tenho certeza de que sentimentos, emoções, sentidos, são como as móleculas da água. no estado sólido, estão todas juntas, agrupadas coesas. com o passar do tempo, vem o estado líquido e as móleculas tornam-se dispersas…não há mais aquela união inicial. finalmente, com o calor excessivo + tempo, aquele emaranhado de móleculas que eram tão grudadas e inseparáveis inicialmente, tornam-se nada mais que…meros acasos.

[Thaís]




Era uma vez uma mulher que via
um futuro grandioso para cada
homem que a tocava.
Um dia ela se tocou.

[Alice Ruiz]

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