quarta-feira, 5 de maio de 2010

Do baú

Com Ana, blues

Sozinha, aqui sentada, olho fixamente pro branco da parede e penso em você. Não há barulho, não há esperança, nem alegria, nem tristeza, nem cores, nem nada. Só há esse não-você ao redor de mim. Meu coração bate cansado, dolorido. Vou existindo dentro desse silêncio até me dar conta que, por entre o vão das persianas, um fio de sol tenta coroar minha cabeça - como se eu fosse a rainha dessa masmorra. Olhamo-nos por alguns instantes - o sol e eu – mas esse momento não dura quase nada. Baixo os olhos e tento cantarolar não sei o que... Qualquer coisa que me tire dessa realidade e me leve pra você. Não consigo.

Então dentro de mim o meu desassossego revira minha alma, joga meus sonhos todos pelo chão, rabisca meus desejos e fere minhas vontades. Sinto medo. Muito medo. E sem surpresa percebo as lágrimas escorrer pelo meu rosto. Muitas delas. Uma, duas, três, várias, incontáveis. Suspiro, soluço e gemo a minha dor. Só minha.

Assim permaneço não sei por quanto tempo. Só percebo que acabou quando, entre uma respiração e outra, sinto seu cheiro. E aquilo que estava cansado e dolorido esvaziou-se para ceder lugar a batidas descompassadas, fragmentadas e uma turbulência emocional.

Você estava aqui.

Abruptamente espalhei todas as minhas fotos pelo chão a procura da sua. E vagarosamente te trouxe pra perto de mim – quase em câmera lenta. Toquei com a ponta dos dedos o seu cabelo e contornei todo seu rosto enquanto as lágrimas hospedavam-se nas covinhas que meu sorriso formava. Seu cheiro cada vez mais beijava minha boca. Ficamos assim, eu e você, nos olhando, até esgotarmos aquele momento, até usarmos inteiramente aquele encontro quase secreto.

Não sei como foi sua partida. Quando acordei já não estava mais. Tive medo de, ao presenciar, morrer novamente. Então adormeci ao seu lado.

Meu medo não era exatamente da morte, mas de morrer, você entende? Entende? Morrer sozinha. Morrer sem você. Morrer de saudades de você. Morrer de [ou da] solidão de você. Morrer pela dor que me causa a falta de você. Morrer se nunca mais voltar pra me ver. Mas no fundo quero viver. Viver pra morrer de amor por você.
[S.Botelho]

4 comentários:

Carla disse...

vc é bárbara. posso falar com vc? em qual email?

Anônimo disse...

Triste, mas lindo!

Anônimo disse...

Tem coisas que ficam para sempre ... sempre ficarão ... para sempre vão estar no lembrança e no coração.

Anônimo disse...

Venho aqui querendo entender...e penso que dor essa que maltrata e quase mata?! Eu estou aqui e Sempre estarei!
Sou eterno!!