domingo, 31 de maio de 2009

Sobrevivente, sobreviver, sobre-viver

Não, não queira saber de mim nem dos meus dias nem das minhas insônias. Não repare em meus sonhos rasgados pelo caminho. Não olhe para minha alma trincada, tampouco surpreenda-se com minhas feridas expostas. É normal e nada disso me dói. Prefiro dizer assim, às vezes é tão complicado lidar com tantas verdades incongruentes. Então, permaneço em silêncio, dobro minhas asas para não atrapalhar e de joelhos vou juntando o que se partiu em antes e depois. Respiro para não perder o que sobrou. E entre restos de achados e perdidos vou encontrando detalhes. Os meus detalhes e colando cada um deles na parede das minhas memórias. Quero a exposição de todos eles - apenas para mim. Quero rever todos os dias tudo o que já existiu ou ainda existi ou existirá. E talvez o que separe um ou outro tempo verbal seja uma vírgula ou uma gota de vazio. Mas tudo bem, não faz mal, isso também nem dói, porque sempre há outras coisas que machucam mais.
[S.Botelho]



Pra falar verdade, às vezes minto
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer as vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
Tanto faz não satisfaz o que preciso
Além do mais, quem busca nunca é indeciso
Eu busquei quem sou;
Você, pra mim, mostrou
Que eu não sou sozinho nesse mundo.
[O Teatro mágico]
Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia, o verbo, a saudade
Do outro a luta, a força
e a coragem pra chegar no fim.
[O Teatro mágico]


"(...) -O que é que se consegue quando se fica feliz? sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana. - Repita a pergunta...? Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros. - Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi. - Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois?- repetiu a menina com obstinação. A mulher encarava-a surpresa. - Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras... - Ser feliz é pra se conseguir o quê? (...)"
[Clarice Lispector]



"Eu quero um punhado de estrelas maduras eu quero a doçura do verbo viver. "
[Caio Fernando Abreu]

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