sexta-feira, 12 de março de 2010

A alegria de ser triste...


Não, não sou triste. Mas não, também não sou feliz. Apenas sou. Vou vivendo cada espaço e declarando minuciosamente em meu rosto cada sentimento. Bons, ruins - não importa. Experimento todos, na mesma proporção, com a mesma intensidade. Mastigo minhas alegrias devagar e aperto as tristezas contra o céu da boca, pra sentir o sabor das suas dores. Não, nem sempre é bom. Ás vezes o gosto apodrecido das coisas faz parecer que o dia [ou a vida] foi interrompido. Tudo para dentro de você. E no estômago parece carregar um bicho morto. Pesa, causa dor, cansaço e lágrimas – que algumas caem e outras permanecem presas no canto dos olhos. Não sei quanto tempo isso dura. Sem que menos se espere, tudo recomeça. A vida, as pessoas, as coisas são assim... Às vezes num único dia, nada, outras vezes num único momento, mel e sangue. Confuso, eu sei. Mas também não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender, e deixar de sentir.
[S.Botelho]




"Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas. Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda- roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei. Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Vou ali ser feliz e já volto."

[Caio F. Abreu]


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